(Farto de) Entregar o ouro ao bandido (2/2)

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[Segunda Parte]

Direccionemos as atenções para as diferenças inter-temporais, quanto à soberania do Povo. Não são muitas.

Comecemos com o poder militar e forças de autoridade. Actualmente são entidades distintas, ou seja, já não se confundem com aristocracia ainda que estejam ao seu serviço. Não obstante, a fidelidade do exército e das forças de segurança continuem a poder ser “compradas” como outrora: com promoções automáticas e sem sentido (clique aqui), privilégios, mordomias, pensões, etc. Principalmente no exército… (Por falar nisso, alguém sabe quantos generais há “no activo” em Portugal (clique aqui)? E por curiosidade, quantos haverá nos EUA?!). Porém, haverá alguma razão para isso? Se recuarmos até 1974 facilmente se entende. Agora que chamei à atenção este tema, fico na dúvida se se tratará de uma diferença face à Idade Média. Em relação a outras forças de autoridade, a oligarquia partidária tem a coisa controlada (ou depois da última manifestação, talvez não) mas uma coisa é certa, pelo abandono a que têm sido votadas as forças policiais, está claro que não os encaram como uma ameaça ao regime.

Na mesma linha, mas agora referindo à forma como a autoridade era exercida, quando a coroa, o senhor das terras, o regime eram postos em causa, ou o Povo se revoltava pelos impostos que pagava, ou pelo preço dos cereais e/ou outros víveres, na terra do aristocrata onde viviam. Se antes se reprimia pela força hoje em dia, se não houver desacatos, ou actos de violência, essas manifestações são só “acompanhadas” e vigiadas de perto. Espera lá, mas a Ucrânia e a Venezuela, não são democracias?! Bom, quanto à repressão das manifestações, já coloco algumas reservas no que toca à possibilidade de se tratar duma diferença face ao outrora.

Passemos à seguinte diferença: se na Idade Média, a maioria do Povo era analfabeta e, logo, muito facilmente manipulável e/ou instrumentalizada, hoje em dia isso não acontece. Ou sim?! Bem, esta ideia de assinalar as diferenças não me está a sair muito bem.

Vou tentar mais uma: se no regime feudal, aguentavam-se as agruras dos desmandos e má gestão dos senhores das terras, emigrar não seria propriamente uma opção como agora. A existência e os parcos direitos acumulados ao longo do tempo estavam enraizados nos campos que exploravam e nos ofícios que lhes eram “permitidos”. Hoje em dia e em Portugal, este fenómeno é tão óbvio que qualquer dia o país vai parecer as vilas do interior: desertificadas, habitadas por população grisalha e longeva (clique aqui) e, quando chega Agosto, rejuvenesce, durante 2 meses, com a chegada dos emigrantes. Nos restantes meses, talvez se consigam ver crianças que visitem o país com os seus pais, em turismo.

Para terminar este exercício, relembro uma das diferenças mais assinaláveis. Efectivamente, se na Idade Média, a soberania dum aristocrata não poderia ser questionada, senão pelo seu rei (ou pela Igreja) e como tal não se sufragava, hoje em dia isso já não é assim. Quando as pessoas são chamadas a votar podem, em massa, decidir ser usurpadas – perdão – governadas (custa-me utilizar o termo sem aspas) por outra falange aristocrata. Em Portugal, nos passados 40 anos, isso implica optar, de 4 em 4 anos, entre os rosas e os laranjas. No entretanto, pode o Povo derrubar algum governo? Pode espernear, gritar e chorar…mas não. Como antigamente…

Podemos fazer alguma coisa para nos vermos livres da influência nefasta que têm estas organizações partidárias demasiado poderosas? Que legislam mal e porcamente e, em seu favor (clique aqui), dos da sua corte e dos seus clientes (que não é o Povo, note-se). Que mantêm a Justiça manietada. Que, escandalosa e convenientemente, se recusam a abrir mão do monopólio legislativo (clique aqui e aqui). Que regulam, quando querem regular, e deixam andar, quando algum lobby poderoso lhe acena com benefícios, ou ameaça com a perda deles e com represálias (e sempre em prejuízo do Povo). Que se servem do poder para angariar e mediar negócios para os seus clientes e afiliados, tendo o Estado como plataforma numa relação: privatização dos benefícios e socialização das perdas. Que matam a livre concorrência, a igualdade de oportunidades e o empreendedorismo, ao adjudicar directamente (clique aqui), ao nomear e ao levantar barreiras “legais” à concorrência de incumbentes “bem relacionados”. Que decidem por investimentos infra-estruturais estéreis, redundantes e de encargos faraónicos.

Para rematar esta demorada exposição, pergunto: Portugal precisa destas organizações partidárias e da pandilha (clique aqui e aqui) que anda a seu reboque, negligenciando o Povo que supostamente deveriam representar?! Não estarão, no final de contas, a contribuir para a aflição por que passa Portugal e para este capítulo da história que em nada nos enobrece?

Se não precisamos deles e muito menos da discricionariedade do seu poder (clique aqui e aqui), por que razão devemos aguentar as suas arbitrariedades (clique aqui) em prejuízo do Estado?! Por que razão devem os Portugueses emigrar (clique aqui) para procurar melhores condições de vida para si e para os seus?! Eles que (se) mudem, porque Portugal não é o seu feudo, Portugal não é das falanges partidárias, eles não podem dispor do país para os seus caprichos.

O que proponho para mudar o rumo dos acontecimentos?! Duas medidas, muito simples, que terão mais impacto se executadas em simultâneo.

Primeira: a dança das cadeiras só prossegue, porque nós continuamos a dar música. Por isso, se não somos tidos, nem achados nas grandes decisões que nos afectam a todos, a nossa melhor resposta ao absolutismo partidário é boicotar as eleições. Boicotar a sério, numa acção concertada que evidencie a inutilidade das eleições legislativas no actual regime. Uma taxa de abstenção não inferior a 80% daria um sinal claro das intenções do Povo. Eu preferiria outra forma mais flagrante de protesto, que seria uma ida massiva às urnas, com o esmagamento da taxa de abstenção para níveis nunca antes vistos, mas com uma percentagem de votos nulos avassaladora *!

Segunda: à parte de todos defeitos e falhas na gestão do país, aquele que nos implica directamente é o péssimo uso dos dinheiros públicos já evidenciado em vários exemplos. Como tal, para se obviar este – chamemos-lhe dilema – cortamos-lhes a fonte para os seus devaneios. Querem desperdiçar dinheiro, ou canaliza-lo para interesses privados, pois utilizem o dinheiro deles. O que temos de fazer é algo semelhante ao que o cidadão Nelson Arraiolos anunciou: pelo facto de estar desempregado e de não ter forma de sustento, declarou, unilateralmente, em carta escrita ao presidente da República, ao primeiro-ministro e à ministra das finanças que não pagaria mais impostos. A sua iniciativa não foi levada muito a sério, já que foi isolada. Ainda que não esteja inteiramente de acordo com a sua petição (clique aqui e aqui), considero-a perfeitamente legítima à luz da indignação perante um regime oligárquico e viciado (clique aqui). Deveríamos todos declarar unilateralmente que, em face dessa prepotência, não contassem com os nossos impostos para desbaratá-los, num sinal claro de protesto face à ilegitimidade do regime.

Comecei com uma citação de Henry Thoreau, termino com outra também da sua autoria: Disobedience is the true foundation of liberty. The obedient must be slaves.” [A desobediência é o verdadeiro alicerce da liberdade. Os obedientes serão escravos].

Se quiserem contar com uma participação mais efectiva do Povo para melhor gerir o país, assumindo as suas limitações, os seus vícios, as suas deficiências, muito bem. Caso contrário devemos também, sem violência e sem agressão, demonstrar o nosso inconformismo (clique aqui) e fazer frente ao absolutismo dum regime que não produz resultados satisfatórios…

* Numa altura em que considero que as falanges partidárias não andam a dormir e que de certeza já pressentiram que a legitimidade deste regime começa a ser posto em causa, eu começo a duvidar seriamente do rigor (veracidade) das estatísticas eleitorais. Um voto nulo é impossível de adulterar!

Ao Deus dará…

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Neste comentário muito válido de Manuela Ferreira Leite (pulse aqui), em que a economista defende que Portugal não será alvo de novo resgate mas sim de um “programa cautelar*,  gostava de destacar o seguinte excerto:

“Muitas das medidas têm sido tomadas de forma cega, como os cortes em salários, a redução de determinado tipo de despesas, são exactamente contrárias à lógica de uma reforma”, sustentou, acrescentando que não existe um modelo subjacente.

Quem estiver minimamente atento ao que os “governos” recentes fizeram em todas as matérias que realmente importam facilmente conclui o mesmo que Ferreira Leite.

Quero dizer, para legislar sobre temas fracturantes – como o aborto, o casamento homossexual, adopção por casais homossexuais, procriação medicamente assistida, regionalização, entre outros – em que se gastam uma quantidade infindável de horas a discutir valores e pontos de vista, todos os deputados participam e todos aparentam ser especialistas. Podia ser uma conversa de café entre amigos ou conhecidos – ou até mesmo transeuntes – e aportaria igual valor acrescentado e talvez até decorresse num nível mais civilizado. Não quero com isto desvalorizar este tipo de matérias, nem as suas implicações para os eventuais interessados, mas estamos tão somente a falar de valores, gostos, preferências.

Agora, quando temos um problema estruturante que põe em causa a sustentabilidade da nossa sociedade civil, a todos os níveis, não temos pessoas capazes nem competentes para liderar o país. Numa altura em que necessitamos de gente com: criatividade para propor soluções para os problemas, aptidão técnica para os compreender, empenho e perseverança para dominá-los, assertividade para negociar quer com parceiros sociais quer com credores internacionais, destreza comunicacional para gerir as expectativas dos Portugueses, temos a conduzir os destinos da nação uma pandilha de medíocres (felizmente que há excepções).

Portugal não tem um modelo, uma política para derrotar a crise económica (sem esquecer existencial) porque o actual regime democrático não o permite, porque os supostos actores principais da “democracia” não representam nem defendem os interesses dos Portugueses, porque essas organizações são péssimos filtros da sociedade – polarizando os espertos e não os mais dotados – e porque acima de tudo concentram demasiado poder!!! (abordo este tema aqui e aqui)!!!

Enquanto deixarmos que essas falanges repilam a entrada de novos partidos ou movimentos sociais na Assembleia da República conservando o oligopólio legislativo, enquanto permitirmos que mantenham o seu estatuto de intocáveis legislando sobre matérias em que sejam parte interessada, enquanto fizermos vista grossa ao amplo e obsceno leque de regalias de que dispõem continuaremos a assistir à degradação da nossa qualidade de vida sem qualquer controlo sobre o nosso destino…

*os que estão ou estiveram muito tempo ligados à política gostam de demonstrar a sua riqueza semântica.

Ingenuidade ou hipocrisia, Daniel?!

INDIGNADO

Confesso que quando na passada sexta-feira, dia 27 de Setembro, me deparei com o título do artigo de Daniel Oliveira no meu filtro de notícias, marquei-o como leitura obrigatória para o dia seguinte. Qual seria o seu ponto de vista?! “As listas dos independentes e a demissão dos Portugueses” (aqui na íntegra)…

Depois de lhe ter dedicado toda a minha atenção, até porque me tinha despertado curiosidade, sustive a respiração momentaneamente para tentar discernir se o que sentia era desilusão, indignação ou até boa-disposição…

Assim como me havia comprometido a ler este artigo também quis colocar na minha lista de tarefas refutar o que é afirmado pelo autor. Do seu artigo destaco o seguinte:

O que me interessa aqui é isto: num país que se queixa tanto da partidocracia, porque acabaram as listas de cidadãos por se transformar numa forma de combate interno nos partidos por outros meios? Não haverá massa crítica fora dos partidos para organizar listas que correspondam a uma forma diferente de exercer o poder local? Não, em geral não há. Porque a partidocracia que domina a nossa vida democrática não resulta, ao contrário do que é habitual dizer-se, de um cerco feito pelos partidos às instituições e às organizações da sociedade civil (sejam elas sindicatos, ONG ou movimentos sociais). Essa é a consequência e não a causa de uma sociedade civil frágil e de uma cidadania pouco ativa. Os partidos tomam conta de quase tudo porque quase tudo o que pode ser ocupado está vazio de cidadãos.

Portugal não tem vida partidária a mais. Tem sociedade civil a menos. Porque há, em Portugal, uma cultura de demissão cívica, que começa no bairro e na empresa e acaba no País. Há exceções, seja no associativismo cultural e desportivo, seja nos bombeiros ou no voluntariado social. Mas raramente correspondem ao desejo de uma participação política cidadã. Não, os portugueses não estão apenas fartos dos políticos. A prova é que depositam neles, sem hesitar, todo o poder. Do que os portugueses estão há muitos anos distantes é da política. Porque não querem saber da pólis. Porque têm um baixíssimo sentido de pertença a uma comunidade. E por isso têm tido tão maus governantes. Quem não exerce a cidadania democrática no quotidiano dificilmente pode fazer escolhas acertadas de 4 em 4 anos.

Uau! Nem sei por onde começar…

Para uma pessoa que militou no Bloco de Esquerda, ou por onde foi visto nos seus congressos, espanta-me uma série de coisas na sua linha de raciocínio que eu vou, dentro do meu âmbito económico-financeiro, tentar explicar-lhe:

Pois bem, avançar com uma lista para umas eleições autárquicas implica não só dispor de “nomes”* :

  • é fundamental que os candidatos disponham de muito tempo para se concentrar na preparação da campanha,
  • é essencial ter uma organização muito bem montada com “profissionais” tarimbados neste ofício e muita mão-de-obra prestável e solícita,
  • é imperioso engendrar uma estratégia de comunicação eficaz e abrangente para dar a conhecer o(s) candidato(s),
  • pode ser necessário montar comícios e,
  • mais mil e uma coisas – creio que já me fiz entender.

Ora bem, como não se pode pagar tudo isto com abraços ou beijinhos, tem mesmo que ser com euros, estamos a falar de um investimento gordo, bem gordo, de tempo e dinheiro. Ora pensem comigo quanto ao manancial de candidatos independentes: há assim tantos Portugueses que tenham património pessoal suficiente (vamos considerar desafogado) e que não tenham compromissos laborais que lhes permitam participar numa empreitada desta natureza?! Num país abastado como o nosso e na actual conjuntura em que a classe média ou sai porta fora, para onde consiga o seu lugar ao sol, ou praticamente submerge para o limiar da sobrevivência, certamente teremos a explicação para a “cidadania pouco activa” que tanto aflige Daniel Oliveira.

Portanto, quem é que dispõe duma organização assim tão bem montada, com colaboradores profissionais experimentados (e remunerados) e com mão-de-obra solícita cuja retribuição é a ambição de subir nas fileiras?! Quem?! E quem é que dispõe de orçamentos milionários financiados pelo próprio estado para desenvolver a sua actividade?! Quem?! E quem é que ainda por cima recebe donativos, que não são abraços nem beijinhos, – legítimos, ou em envelope canelado – daqueles que querem “fazer negócios” quando este ou aquele partido assumirem a câmara municipal?! Quem?!

Agora, perante a desilusão demonstrada por Daniel Oliveira pela maioria das candidaturas independentes serem encabeçadas por dissidentes das máquinas partidárias, eu explico, é muito simples: têm no CV a experiência acumulada nas máquinas partidárias e uma vez que são de âmbito local têm os seus próprios seguidores e “clientes”(queria dizer simpatizantes e patrocinadores). No seu feudo alguns já dominam o circuito e a importância de pertencer a uma máquina partidária torna-se menos decisiva.

Como se tudo isto não bastasse a concorrência desleal não se fica por aqui:  assim como está escrito que as falanges partidárias têm que ser financiados pelo Estado (através dos impostos, claro está) também é legal que estas organizações estejam isentas do pagamento de IVA nas transacções em que estejam envolvidas, o que não sucede com uma candidatura de independentes. E o que dizer da falta de transparência das restantes fontes de financiamento em que vergonhosamente todos os partidos se calam que nem ratos?! O mesmo é dizer que, contrariamente ao que Daniel Oliveira quer fazer crer, quem define as regras do jogo também são as falanges partidárias e como tal – sim, é óbvio que sim – manietam a democracia e suas instituições**.

Resumindo, as máquinas partidárias acederam enfrentar os movimentos cívicos (ou candidaturas independentes) mas como são tão “temerários” só permitem que o combate seja feito a nível local, não sem condicionar bastante a oposição cívica. Assim, assistimos a uma cartelização legal – porque quem define a lei também participa nos embates eleitorais – mas ilegítima e a todos os níveis desleal***. Para ilustrar imagine-se qual seria o desfecho dum hipotético combate de boxe promovido por um praticante profissional, em excelente forma física, bem “vitaminado”, que enfrenta um cidadão comum, sem qualquer experiência, depois de ter treinado, como pôde, algumas semanas. Para cúmulo, o árbitro seria um membro da comitiva do boxeur profissional que na eventualidade da coisa estar apertada certamente fecharia os olhos a algum golpe baixo.

Esse combate já teve lugar uma vez e o cidadão que se atreveu a entrar no ringue dá pelo nome de Fernando Nobre. Depois de uma vitória moral nas presidenciais de 2011 a sua imagem e os valores pelos quais lutava – moralização da classe política –  foram completamente arrasados pelas máquinas partidárias, quando aceitou encabeçar a lista do PSD por Lisboa nas legislativas do mesmo ano. Como? Primeiro, seduziram-no a chafurdar na mesma lama para depois o escorraçarem no triste episódio da eleição “do faz de conta” do presidente da Assembleia da República. Este acabou por constituir um sério aviso aos que lhe quisessem seguir os passos e mais um claro exemplo de como estas organizações são capazes de cerrar fileiras para manter o status quo ****  “Estas não são andanças para um cidadão comum!” No final, saiu cabisbaixo regressando, sem honra nem glória, ao seu antigo cargo na AMI e com um património bem mais aligeirado.

Para terminar faço questão de dar uma achega no suposto “desinteresse” dos Portugueses pela “pólis” e do alegado “baixíssimo sentido de pertença a uma comunidade”. Quando os Portugueses viviam oprimidos pela ditadura que precedeu a actual “democracia” a maioria não se manifestava muito com receio das consequências. Não obstante, isso não queria dizer que estivessem acomodados com a situação. Analisemos de outro ponto de vista: todos sabemos que as “eleições” em países cujos regimes “permitem menos veleidades que o nosso” (ou em que a corrupção está institucionalizada) têm taxas de participação elevadas e resultados na maior parte dos casos contundentes. Mas isso não implica que as suas populações sejam claramente mais interventivas na política nacional que os Portugueses.

Para quem não estiver a seguir a minha linha de raciocínio eu clarifico: as elevadas taxas de abstenção nos actos eleitorais vão muito para além do alheamento dos Portugueses na condução dos destinos do país. Revelam, acima de tudo, um sentimento de impotência para fazer frente a organizações partidárias que concentram em si o poder para os seus representantes fazerem uso dele como bem entendam, sem pudor nem remorsos. Pior! Fazem-no sem qualquer tipo de controlo por que todas as demais instituições em que a democracia se alicerça estão manietadas pelo seu monopólio legislativo. Esse mesmo que açaima o Tribunal de Contas e que enreda os demais Tribunais para que estes espertalhões continuem a levar a deles a avante com toda a impunidade.

Antes que baixem a cortina para que me cale lanço um repto a Daniel Oliveira (e a outros como ele): não aponte o dedo que é feio e não queira fazer passar-se por iluminado. A nossa decadência tem como corolário não uma partidocracia mas sim uma “partidura”. O seu discurso faria todo o sentido nos anos 90: aí sim fomos desmazelados e deixamos que estas organizações se apoderassem do país. Se quiser ser pragmático assuma a liderança dum movimento para dar a volta à imundície que fere de morte a legitimidade da “democracia” actual. Força! Eu apoiarei. Caso contrário poupe-nos os sermões…*****

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/as-listas-independentes-e-a-demissao-dos-portugueses=f832175#ixzz2gSIbbZ96

* os mais puristas poderiam mencionar como prioritário um programa eleitoral mas as falanges partidárias já demonstraram que isso nem sequer é secundário.

** menos o Tribunal Constitucional.

*** facto de que Daniel Oliveira parece ter conhecimento (pulse aqui)

A Fernando Nobre escrutina-se as rendas da sua sede de campanha [às presidenciais de 2011]. A Cavaco nunca se pergunta quem financia e financiou as suas campanhas. Nem as suas relações antigas com o BPN e a protecção descarada que garantiu a Dias Loureiro.

**** outros, não menos importantes, são a resistência corporativista de todas as bancadas parlamentares a aceitar concorrer contra movimentos cívicos.

***** Fernando Nobre foi ingénuo mas coragem não lhe faltou! Infelizmente caiu no engodo das máquinas partidárias e passou à história como hipócrita.

Rendas mal bordadas – a saga continua…

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Que dizer das 27 mil leis ou enquadramentos legais para o arrendamento em Portugal?!

Eu sinceramente não sei mais o que dizer a não ser bater na mesma tecla de sempre:

“Esta “gente” que nos “governa”, (diz que) nos “representa” e que é angariada pelas falanges partidárias mais proeminentes não presta: é incompetente, é mal formada, partilha de valores “pouco” exemplares, revela interesses desalinhados com os da nação manifestados em actos concretos – e publicamente conhecidos – que beneficiam os próprios e/ou terceiros, em detrimento do país.

Em relação à saga da(s) lei(s) do arrendamento sugiro a leitura da crónica de Fernanda Câncio publicada hoje no Diário de Notícias (clique aqui). O título é elucidativo da categoria desta “googologia”: Em Cuecas!

A este respeito leia também (clique nos links):

Métrica fiável de incompetência…

Sempre a dar o exemplo…

Mas há alguém que mande estas bordadeiras borda fora?!

 

 

 

Ignorância atrevida

Ontem fez notícia no jornal o conteúdo de um parecer emitido por um escritório de advogados no caso famigerado dos swaps negociados por representantes do governo em nome de empresas sob alçada do estado.

Segundo esse documento datado de Setembro de 2012 o governo teria legitimidade para pedir, por via judicial, a anulação dos ditos contratos com base, principalmente, em dois argumentos:

  1. Necessidade de visto prévio do Tribunal de Contas a contratos que resultem em encargos financeiros ou patrimoniais. O parecer sustenta que os contratos de derivados com intuito especulativo (…) estão abrangidos pelas normas aplicáveis e deveriam por isso ter sido sujeitos a visto prévio do Tribunal de Contas. A consequência da falta do visto é a ineficácia desses contratos. Tal implicaria a anulação retroactiva dos seus efeitos e a restituição de tudo o que tivesse sido prestado ao abrigo do negócio jurídico considerado nulo.” 
  2. “O parecer remete também para processos em tribunais internacionais em que foi invocada a desproporção de informação e experiência entre os prestadores dos contratos e os clientes, considerando que nestes casos existe um dever reforçado de informação por parte dos bancos. Por outro lado, quando o produto financeiro em causa está concebido de forma a que apenas uma parte pode ser beneficiada, o banco, e a outra é sempre prejudicada, o cliente, estamos perante um produto com falhas.

Antes de ir brincar com os argumentos apresentados começo por referir que quem negociou estes contratos com os doutos que representaram os interesses (mas lamentavelmente também os bolsos) Portugueses sabia bem o que andava a fazer. Ou seja, os bancos visados neste suposto logro redigiram os contratos de maneira a que o ordenamento jurídico relevante para decidir qualquer contenda entre as partes fosse o Britânico.

Daí todo este alarido. Porquê, pergunta o leitor? Não é que o nosso ordenamento jurídico não seja de confiança (eu coloco as minhas reservas) mas acima de tudo por que se assim acontecesse o governo poderia muito facilmente fazer passar legislação  que efectivamente anulasse as repercussões dos swaps com efeitos retroactivosSim, porque obviamente os bancos estrangeiros poderiam contar com a independência e isenção dos tribunais Portugueses. Agora se  pode entender a razão do governo avançar para “a negociação”. Não tem alternativa!

Quanto aos argumentos (bastante risíveis, diga-se):

No primeiro invoca-se uma falha processual grave (bastante grave do meu ponto de vista) ao avançar-se para uma negociação  de “contratos que resultem em encargos financeiros ou patrimoniais” para o estado sem o visto prévio do Tribunal de Contas. E?! Que culpa têm os bancos?! Se isso aconteceu foi por manifesta incompetência do estado Português que permitiu tal situação. Querem culpados!? Ponham os “representantes” do estado que agiram à revelia bem como os seus superiores – ministro da tutela e primeiro-ministro à data – no banco dos réus. Já sei…inverosímil.

Já o segundo argumento…hmmmm…hmmmm….ahahahahah! Desculpem, agora parecia o ministro Álvaro Pereira. Alguém apontou uma arma à(s) cabeça(s) iluminada(s) que agora aparenta(m) estar fundida(s)?! Se sim então aí temos caso de polícia se não, passo à seguinte questão: lembraram-se de ler bem os contratos, de perguntar aos 200 assessores que têm à disposição um parecer sobre os mesmos?! Sim?! Então é melhor despedir todos que não andam lá a fazer nada. Não?! Ok. E pediram um parecer ao Tribunal de Contas?! Ah! Essa pergunta foi estúpida, peço desculpa. O Tribunal de Contas só é para aqui chamado para invocar uma falha de tramitação!

Tendo em conta tudo isto o que é que o bom senso manda fazer – não tem tido muita autoridade hoje em dia –  numa situação destas?! Há dúvidas?! Não se entende bem a natureza dos produtos nem as suas implicações?! Pede-se um parecer ao Tribunal de Contas! Nãããããoooo?!?!?!

Então sigam este conselho que ainda para mais é de borla: quando não se sabe o que se anda a fazer o melhor é…é…é… estar quietiiiiiiinho!!!!