Pescadinha de rabo na boca que já cheira mal

Que dizer deste ciclo vicioso (viciado se preferirem) tantas vezes repetido que até já cheira mal…

(colecção de notícias dos últimos dias)

Passos [Coelho]: Estado garantirá que bancos injectem crédito na economia“, in Dinheiro Vivo, 14/04/2013.

“O Estado (…) não deixará de activamente, junto dessas instituições, garantir que tudo o que elas podem fazer para reanimar o crédito à economia seja feito” (…) “há hoje uma parte da recessão que está a ser causada de forma desnecessária, pela falta de crédito à economia, não obstante haver bancos capitalizados que possam assegurar esse crédito à economia”…

CGD. Bancos estão prontos a apoiar a economia “se as circunstâncias o permitirem””, in Jornal i, 16 /04/2013.

““Temos um sistema financeiro muito estável para apoiar uma economia em crescimento e vibrante [gargalhada ininterrupta] se as circunstâncias o permitirem”, afirmou hoje José de Matos [presidente executivo da CGD] (…) “Segundo o presidente executivo do banco público, o sector financeiro português atingiu “todas as medidas previstas no programa” de ajustamento negociado com a ‘troika’ (…)  e está agora “muito bem capitalizado e resiliente [não é o que se consta] aos desenvolvimentos do mercado”, pelo que pode apoiar a economia “se as circunstâncias o permitirem”.”

“Fernando Ulrich diz-se “perplexo” com declarações de Passos Coelho”in Jornal i, 16/04/2013.

“Fiquei perplexo porque se o tema é tão importante para o primeiro-ministro dizer isso, é estranho que não tenha conversado connosco” disse Fernando Ulrich [presidente executivo do BPI]”…

“Moody’s: “Bancos precisam de capital para absorver perdas”“, in Dinheiro Vivo, 13/04/2013.

“Quatro meses depois, a Moody’s volta a deixar o alerta: os bancos portugueses precisam de mais 8 mil milhões de euros para colmatar novas necessidades de capital” (…) “Pensamos que alguns bancos estão em risco de pedir mais capital se as perdas se materializarem”, afirmou Pepa Mori [analista da Moody’s] (…) “e isto [a cifra de 8 mil milhões de euros] num cenário mais conservador“…

“FMI: Bancos travam crédito mais favorável nos países periféricos”, in Dinheiro Vivo, 16/04/2013.

“Na área do euro, as melhores condições para os soberanos periféricos ainda não estão a passar para as empresas e as famílias porque os bancos continuam a coxear com pobres rendibilidades e capitais reduzidos, o que é um constrangimento à oferta de crédito”(…) “”Para além disso”, reconhece o FMI ao mais alto nível,em muitas economias a actividade será travada pela continuação do ajustamento orçamental, problemas de competitividade e balanços fracos“.”

Que dizer de tudo isto?!

Num contexto recessivo à escala europeia – correndo o risco de parecer optimista – , de grande instabilidade nas mais diversas dimensões – legal, fiscal, regulamentar, institucional, política até – , de graves constrangimentos financeiros soberanos, quem é que se arrisca a investir em Portugal?! Fora os grandes grupos económicos (e se calhar nem esses) só um intrépido empreendedor…

Se as necessidades de crédito são evidentemente modestas nesta conjuntura pouco (ou nada) favorável porquê insistir nessa demagogia de querer fazer chegar crédito à economia para a fazer crescer?!

Mais, se a banca – embora em auto-negação – se encontra assente em gelo muito fino – como alerta a Moody’s –  para quê acossá-la para conceder crédito se esta ainda vai ter muito com que se entreter com imparidades nos próximos tempos. Das duas uma: ou a pressionam para arrumar a casa ou para incorrer em mais riscos!

Foi o recurso ao crédito barato e irresponsavelmente facilitado que catalisou a grave crise que nos aflige. Repetir a dose seria pouco racional. Encaremos a realidade como ela é: sombria e nada acolhedora. Não há ajustamentos instantâneos nem indolores. O governo terá de ser muito mais engenhoso para colocar o país no trilho do crescimento sustentado e melhorar as condições de acesso ao crédito não pode ser, para nosso bem, o seu principal trunfo.

Além do mais, a história recente já demonstrou como se desmoronou o crescimento assente nesse tipo de cartas…

4 thoughts on “Pescadinha de rabo na boca que já cheira mal

  1. Pingback: O problema das equivalências nas licenciaturas | acorda es(torpor)ado!

  2. O discurso de Passos é meramente demagógico e ilusório, para de desfazer de responsabilidades. E somos nós que estamos e continuamos alegremente a financiar os bancos.

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