Falácias, à dúzia fica mais barato…

Quinta-feira dia 2 de Fevereiro, dia de greve nos transportes públicos. Os seus sindicatos ao cumprir o que havia pré-anunciado deixaram o trânsito de Lisboa e Porto desfalcada de autocarros, sem o metro em Lisboa e com o serviço altamente condicionado nas travessias do rio Tejo. Na véspera, o secretário de estado dos transportes alertou que esta forma de protesto iria causar o transtorno a milhares de utentes e que custaria à economia Portuguesa €150 milhões de euros.

Já no final de semana o governo anunciou que não ia dar tolerância de ponto no dia de Carnaval à função pública. Passos Coelho invocou uma questão de coerência numa altura em que se pondera a supressão de feriados – históricos e religiosos – com mais simbolismo que o Carnaval, também este um feriado religioso, para aqueles que não sabem. Esta medida foi no entanto interpretada, pela oposição, como uma forma de “espremer” mais os trabalhadores. Mesmo vencimento, mais horas de trabalho, segundo Francisco Louçã.

Brincadeiras – de Carnaval ou não –, jogos de palavras e argumentos ludibriosos à parte a verdade é que no primeiro caso o país até pode ter enriquecido ao passo que no segundo parece quase certo que…não!

No dia 2 de Fevereiro as filas de trânsito engrossavam-se à entrada das cidades. Sinal de que muitos carros saíram à rua, muito mais do que em qualquer outro dia de semana. Contas feitas houve: um aumento significativo no consumo de gasolina, um dia de cobrança extraordinária de portagens, um dia de prosperidade para as operadoras de telemóvel à custa do “estou atrasado por causa da greve nos transportes” e até talvez para os restaurantes, snack-bars e take aways. Como é que o estado perdeu? Sim, como é que o estado perdeu se este incremento extraordinário na actividade do sector empresarial privado é gerador de impostos? Ok, as empresas de transportes perderam receitas…Será que perderam?! Nos autocarros e nos metros a maioria das receitas provêm dos passes…pré-pagos! Por outro lado ao ficarem na garagem, na estação principal ou no porto não gastaram energia e que se saiba quem faz greve…não recebe.

Quanto ao Carnaval, a supressão do feriado tem consequências negativas evidentes para a economia de localidades como Ovar, Torres Vedras, Loulé, e outras onde haja festejos e folia. Além do mais, transformar um dia de lazer com tradição – em que a propensão ao consumo é grande – em dia de trabalho, contrariado, parece fazer pouco sentido…económico.

Resumindo e baralhando:

– na verdade a greve do dia de Fevereiro causou muito transtorno ao cidadão comum que recorre aos transportes públicos para as suas deslocações pendulares tendo sido forçado a fazer gastos que em condições normais não ocorreriam. Quanto à perda de riqueza de que o secretário de estado se lamentava tendo inclusive quantificado parece questionável. Bem-estar, qualidade de vida?! Sim! Mas isso não é mensurável e a troika não se compadece com essa métrica. De acordo com as convenções vigentes é mais rico, um país com mão-de-obra escrava e oprimida que produza mais que outro em que isso não acontece. O que se pretende assinalar é que a perda de bem-estar ou qualidade de vida, nem que seja circunstancial, não “conta para o totobola”.

– em relação ao Carnaval que coerência é que se quer invocar quando a maior parte dos Portugueses desconhece o significado da maioria dos feriados – a eliminar ou não – do calendário?!

Estes dois exemplos evidenciam que na arte da retórica falaciosa não há quem bata os “políticos” da nossa praça. Aliás se há coisa que têm preservado ao longo dos tempos é esta habilidade. Fazem parecer branco aquilo que é preto e quando querem dar a entender que uma coisa é cinzenta remetem para o facto de existir outra que é azul.

Enquanto, os Portugueses não acordarem para o facto desta gentalha deter um poder exagerado e sem controlo eficaz continuaremos a ter que levar com estas preciosidades da retórica.

Entretanto eles depreendem: “Oh! À dúzia fica mais barato…”

Miguel Albuquerque (06/02/2012)